quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Sem Contemplações

Há uns anos, quando percorria diariamente o então IP5, que ligava Aveiro a Vilar Formoso, foi instituída a tolerância zero aos automobilistas. A coisa não foi fácil para quem ali andava no quotidiano, mas foi imediatamente constatável um aumento de civismo por parte dos condutores. A até aí conhecida como estrada da morte conheceu nessora uma diminuição acentuada da sinistralidade da via. Fez-se jus ao ditado popular que aconselha grandes remédios para grandes males. A terapia doeu a muita gente – eu próprio levei com duas multas por circular a setenta e poucos quilómetros/hora onde o limite era de sessenta – mas os seus efeitos não se fizeram esperar. Vem o episódio a propósito para lembrar que, alturas há em que o caminho do diálogo e da sensibilização está notoriamente esgotado Quando assim é, resta passar à fase seguinte.
É isso que é preciso fazer urgentemente em Vila Nova de Famalicão no que ao estacionamento irregular e abusivo diz respeito. As pessoas, não todas mas muitas, perderam a vergonha e com o maior descaramento estacionam onde muito bem lhes dá na real gana, complicando sobremaneira o tráfego citadino, enquanto passam às novas gerações uma imagem de absoluto relativismo quanto às mais elementares regras básicas de cidadania.
Entre muitos, o exemplo mais flagrante do que refiro acontece todos os dias e praticamente a todas as horas na Rua Adriano Pinto Basto, entre os cruzamentos com a Rua Camilo Castelo Branco e a Av. 25 de Abril – ali junto ao antigo Régulo. Como se sabe a artéria em questão é de dupla via, possibilitando a utilização do corredor da esquerda para quem deseja seguir em direcção à rotunda Bernardino Machado e o da direita para quem tenciona seguir em frente ou virar para os lados da estação. Tal é contudo apenas teoria, pois na prática apenas a faixa da esquerda escoa o trânsito, enquanto a da direita está praticamente em permanência obstruída por viaturas paradas, cujos proprietários se percebe com facilidade estarem confortavelmente instalados na pastelaria ao lado ou nas lojas comerciais em frente.
Pior que a limitação ao trânsito, ainda é o desaforo com que a coisa é feita. São ares de absoluta naturalidade e pretensiosa superioridade que são dirigidos a quem desespera nas filas do trânsito. São lições de anti-cidadania que as novas gerações sorvem como pesudo-afirmações de superioridade, matéria em que de resto são já mais do que doutores.
Resta pois passar à fase seguinte, até porque sabemos muito bem onde estacionar o carro quando nos dirigimos ao Porto ou a Braga. É pois mais do que tempo de dar por encerrado o caminho do diálogo e da compreensão. A presente e futura qualidade de vida de uma cidade também passa por aqui.

Publicado no Cidade Hoje Jornal em 10-02-2011

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