quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Interesses em Ascensão


Foto: António Freitas
 A solidariedade deveria ser um ponto de honra entre as instituições públicas que directa ou indirectamente funcionam com base nas escolhas que o povo faz quando vota. Não só pela legitimidade lhes advir da mesma fonte e portanto lhes dever merecer o maior respeito, mas também pela própria saúde do sistema que sustenta o governo do país: a democracia. É que esta, já se sabe, não garante por si só uma sociedade justa, forte e equilibrada. É preciso que os seus maiores executantes, os políticos, ajam no respeito pelos seus princípios e valores.
Não se compreende por isso que o Governador Civil de Braga tenha escolhido as sacristias das igrejas paroquiais para entrega de umas braçadeiras reflectoras de sinalização para peões. É algo de profundamente estranho, que uma entidade que representa o governo da nação no distrito, ignore o primeiro pilar da democracia que são as juntas de freguesia e peça apoio ao Sr. Arcebispo de Braga para a distribuição das ditas braçadeiras através dos párocos da diocese.
Mais estranho ainda é a operação, quando recordámos que é precisamente o governo que nomeou o Sr. Governador Civil que tem como ponto de honra o respeito absoluto pela Lei da Liberdade Religiosa, segundo a qual o Estado Português respeita o princípio da não confessionalidade, não adoptando qualquer religião, nem se pronunciando sobre questões religiosas.
Da teoria à prática vai contudo uma grande distância. Uma coisa são os discursos inflamados de boa vontade e outra, bem diferente, é a realidade. E nessa, as pessoas têm os seus interesses, tantas vezes inconfessados, mas quase sempre conscientemente condicionantes. Por eles se atropelam princípios e se subvertem valores; por eles se fazem vãs as palavras e ocos os discursos; por eles, como amargamente temos sentido, se pode perder um país.

Publicado no Cidade Hoje Jornal em 03-02-2011

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