quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Insanidades à moda da Segurança Social

Desafio qualquer cidadão profissionalmente activo a passar pela experiência de entregar um documento nas principais dependências da Segurança Social do Norte do país (Porto, Braga e Vila Nova de Famalicão, pelo menos) e a sair dela com a tensão arterial, já não digo normal, mas em valores minimamente aceitáveis. Pura e simplesmente não é possível fazê-lo sem recurso a elevada carga de sedativos.
Em Famalicão por exemplo, a entrega de um simples documento, contra-entrega do respectivo recibo, pode significar três horas de espera, para um atendimento que dura minutos. Aconteceu-me a mim na semana passada, como já me tinha acontecido das últimas vezes que precisei de recorrer àquele serviço público e como já terá sucedido a um sem número de pessoas. No Porto, o panorama parece ainda pior. Garante-me quem já passou pelo calvário, que as pessoas fazem fila ainda de madrugada para tirarem a senha para o atendimento, enquanto que os utentes que a lei define como prioritários são carinhosamente informados que entre as 12h e as 14h a norma não é exercida por falta de funcionários. Em Braga, diz também quem já sentiu na pele, o filme tem o mesmo genérico.
Dando de barato que os funcionários são escassos para a quantidade de solicitações, parece também óbvio que a organização tanto do serviço como dos próprios espaços, deixam muito a desejar e contribuem decisivamente para a gravidade da situação. Veja-se novamente caso de Vila Nova de Famalicão, sede de concelho com mais de 130 mil habitantes, onde a área de espera é notoriamente reduzida, obrigando as pessoas a amontoarem-se na proximidade do ecrã que controla o número de atendimento e que, por incrível que pareça, está virado para a parede. O ar é pesado. A circulação de pessoas é um desafio. As cadeiras que eventualmente ajudariam a uma espera menos desgastante contam-se pelos dedos. O atendimento não é, como sensatamente se exigia, distribuído em função da complexidade dos assuntos. Mas alguém encaixa que demore três horas a entregar um papel?
Aqui está matéria que deveria merecer a preocupação séria do governo e, por maioria de razões, dos seus representantes nas respectivas sedes de distrito, os palacianos srs. governadores civis. Mas não. Corta-se a eito nos funcionários públicos, queima-se o tempo em cerimónias com belas oratórias de defesa do estado social, acenam-se com umas sopas aos pobres e telemóveis aos velhos, e fica por fazer o essencial: agir em casa própria, garantindo não só as respostas sociais eficientes que se exigem, mas também a sanidade mental das pessoas.
E era tão simples fazê-lo, “desde que as entidades responsáveis percebam que, por vezes, os grandes problemas se resolvem com meios técnicos e humanos competentes, que nos estão próximos e disponíveis”. Palavra do governador civil de Braga, nomeado para o cargo pelo governo da nação que, convém relembrar, tutela os serviços locais da segurança social.
José Agostinho Pereira

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