quarta-feira, 11 de maio de 2011

O insano, o fúnebre e os imbecis


O Grito de Munch
  
O homem é um artista. E para além de artista é vesano. Às primeiras palavras que José Sócrates debitou no passado dia 3 de Maio, quando era suposto anunciar o pacote de austeridade sugerido pela dita troika, já o delírio era uma evidência. Não vai acontecer isto, não vai acontecer aquilo, e também não vai acontecer aqueloutro. Do que vai realmente acontecer, e que seria supostamente o motivo do direto e televisivo comunicado ao país, nem uma palavra. Tudo em paz. Tudo tranquilo. Só desafogos portanto. Alívio em cima de alívio. Elucidativo só mesmo o ar de velório do reaparecido ministro Teixeira dos Santos.
No dia seguinte, já sem os devaneios e exaltações do primeiro-ministro a entrar-nos porta dentro, a dura realidade começa a chegar-nos aos poucos: vem aí mais impostos, menos prestações sociais, o gás e a luz vão aumentar, os desempregados vão pagar IRS, os despedimentos vão ser facilitados, etc. etc... De uma maneira ou de outra, ninguém fica de fora e todos vão sofrer ainda mais duramente as consequências da incompetência com que fomos governados nos últimos anos.
Como é que o homem mantém tão altas intenções de voto? Essa é uma parte difícil de explicar. Não porque não saibamos a resposta, que sabemos, mas porque nos é demasiado custoso exprimi-la, confessá-la. E para não ficar eu com o ónus da coisa, socorro-me de Guerra Junqueiro e das suas conhecidas e esclarecedoras palavras escritas no “Pátria”, em 1896, a propósito dos portugueses: 'Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas...'
Amanhã, 12-05-2011, no Cidade Hoje Jornal

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