quinta-feira, 2 de junho de 2011

Hora H

Compreendo todas as dúvidas em relação às eleições do próximo domingo menos uma: em quem não votar!
Pela sua natureza, o cargo de primeiro-ministro deveria estar reservado a quem reunisse um conjunto alargado de qualidades e virtudes pessoais óbvias, como a honestidade, a integridade, a capacidade de liderança e de execução e o sentido de estado, entre algumas outras, que, no seu conjunto, limitariam drasticamente o acesso ao cargo a uma meia dúzia de indivíduos. Os tempos são contudo de relativismo e o mais importante cargo da nação, como de resto muitos outros, abre-se em função do exercício partidário, que estabelece critérios bem mais alargados e naturalmente discutíveis. A história recente diz-nos que esse é um mau caminho, mas é o contexto que temos. Em todo o caso, há o mínimo dos mínimos e esses não devemos deixar de exigir a quem ocupa o mais importante cargo da nação, quanto mais não seja pelo decoro que devemos a nós próprios.
Pois Sócrates não cumpriu com os mínimos. Diz e desdiz-se ao sabor das confrontações da comunicação social, pensa e age ao sabor do momento e da estratégia que elenca para sobreviver no poder, sacode a água do capote com uma sobranceria que impressiona, culpabiliza meio mundo pelo desastre nacional e ao fim de seis anos de primeiro-ministro não assume qualquer responsabilidade pelo atoleiro em que está metido o país.
Não, o homem não reúne as mínimas condições para voltar a assumir a liderança governamental. Num país com exigências democráticas levadas a sério, José Sócrates já não era sequer candidato, pois seriam os seus pares os primeiros a reorientar internamente estratégias em função dos princípios que estiveram na base da criação do partido: “uma sociedade mais livre, mais justa, mais solidária, mais pacífica, através do aperfeiçoamento constante e do desenvolvimento harmonioso da democracia”.
Não sendo por aí, a reação aos últimos anos de governação terá que ser dada no próximo domingo. E mais do que gritos geracionais, greves gerais, e outros ais, é nas urnas que a revolta se deve fazer sentir, sob pena de grave incoerência coletiva que, diabo seja surdo, a verificar-se confirmaria um buraco mental nos portugueses de dimensões bem mais preocupantes que o buraco financeiro.

Hoje, 02-06-2011, no Cidade Hoje Jornal

2 comentários:

  1. Estou perfeitamente de acordo que "a honestidade, a integridade, a capacidade de liderança e de execução e o sentido de estado, entre algumas outras, que, no seu conjunto, limitariam drasticamente o acesso ao cargo a uma meia dúzia de indivíduos", enquanto assim não for e não se acrescentar a estas qualidades a lealdade, o reconhecimento e a honestidade intelectual não conseguiremos levantar a cabeça nem poderemos pedir ao Povo sacrificios e conductas de cidadania mais apuradas. O exemplo tem que vir de cima ou então o poder vai forçosamente cair na rua com todos os inconvenientes e retrocessos que isso implicará. Este nível de exigência aplica-se a todos aqueles que desempenham cargos politicos e públicos e é extensível a todos aqueles que implementam o dia a dia Português - NÓS. Têmos que promover a excelência e o mérito e renunciar á partidarite, ao abuso de poder e ao trafico de amizades e de interesses.

    A.Meireles

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  2. Parece que não se vai confirmar o "buraco mental" dos portugueses, o que se saúda desde já.

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